Yane Marques compara bronze no pentatlo moderno à maternidade: “Só quem vive sabe”

Episódio da série “Minha Medalha” relembra conquista da pernambucana no último dia das Olimpíadas de Londres 2012

Uma representante do sertão pernambucano mudou para sempre um esporte sem tradição no Brasil. Yane Marques fez do último dia das Olimpíadas de Londres, em 2012, um novo capítulo na história do esporte ao conquistar a inédita medalha de bronze no pentatlo moderno.

No episódio da série “Minha Medalha”, Yane relembrou as estratégias para conseguir somar o maior número de pontos nas cincos provas e chegar na rodada final com reais chances de subir ao pódio. Com histórico de bons resultados em mundiais, a jovem de Afogados da Jangazeira tinha a certeza que naqueles jogos poderia se tornar a primeira do país a trazer uma medalha num esporte ainda dominado pelos homens.

– As pessoas perguntam “Qual a sensação? Qual a sensação de ganhar uma medalha olímpica?”. Não dá pra você descrever, você tem que viver. Não dá pra você descrever em palavras. Não dá pra tentar reproduzir em você a sensação de ser medalhista olímpica sem ser. É a mesma coisa de mãe – contou Yane durante entrevista.

Apenas nas Olimpíadas de Sidney, em 2000, as mulheres puderam competir no pentatlo, modalidade presente nos Jogos desde 1912. Cem anos depois, uma brasileira escreveria seu nome.



– Hoje as pessoas não me param mais na rua pra dizer “Ah, você é aquela menina que faz… Como é? Aquele esporte que é um monte de prova”. Não. Hoje as pessoas param e falam “Pô, que legal, você faz aquele esporte que corre, que nada, que joga esgrima, que monta a cavalo, aquele esporte bem…” Sim, as pessoas passaram a conhecer o pentatlo. Era uma modalidade que não era conhecida no Brasil. Isso é fato – concluiu.

Leia abaixo o depoimento da primeira e única medalhista brasileira no pentatlo moderno, bronze nas Olimpíadas de Londres, em 2012:

O sucesso na prova de Londres foi conseguir executar o plano que eu tinha para cada atleta, e esse plano deu muito certo. Em Londres, eu era uma das pessoas com chances reais de subir no pódio, assim como pelo menos outras 15 ou 18 ou 20 atletas. Na prova tudo pode acontecer. Já assisti olimpíada em que a pessoa estava em primeiro lugar, no cavalo vai supermal e vai para a última posição. Então assim, é uma incógnita, muitas atletas com chance. Foi o último dia da olimpíada, dia dos pais, última medalha. Muita gente já fazendo balanço de quadro de medalhas e aí eu chego para atrapalhar tudo e boto mais uma medalha ali. Mas foi um dia assim… inesquecível. Inesquecível. Aconteceu exatamente da forma que eu sonhava que podia acontecer.

Chegar nessa maturidade de conseguir ter essa cabeça muito preparada, a pressão de largar no zero junto com a atual número 1 do mundo, e atrás de você uma menina que tinha acabado de ser tricampeã mundial, 2 ou 3 segundos atrás, sabe? Tinha que estar muito forte psicologicamente. Fisicamente, eu sabia que eu estava preparada. Então agora era a cabecinha suportar a pressão e fazer de verdade o que eu estava fazendo no treino. Eu estava muito bem, estava treinando superbem. Eu sou uma atleta que tenha uma vantagem, eu não me lesionava muito. Eu fazia um trabalho de prevenção de lesão muito forte, e isso me segurou super bem pra chegar em Londres no auge da minha forma física, bem fisicamente, bem psicologicamente, pra poder realizar o meu sonho.

 

É engraçado que a minha medalha olímpica, ela veio, sem eu ganhar nenhuma prova das 5 modalidades. Minha melhor classificação foi um sexto lugar na esgrima e sexto lugar na natação. O que prova que no pentatlo, você precisa ser constante, estar bem, ali numa média, mas não necessariamente ser melhor numa prova, porque isso naturalmente acontece que você vai ser ruim em outra. Tem que ser razoável em tudo.

Normalmente não acompanho a minha pontuação em classificação durante o dia. Eu faço o que eu tenho que fazer naquela prova, aí desliga a chave da esgrima, liga a chave da natação, desliga a chave da natação, liga a chave do hipismo e assim eu vou vivendo prova por prova. Quando chegou a hora de fazer a fila pra largada do combinado na olimpíada, uma menina da organização começou a chamar da trigésima sexta até a primeira, pra pegar um número colocar no peito, e aí foi 36, 35, 34, falou o 20, e na 15, e na 10, 8, 6, 5, e ela não chamava meu nome. Eu falei “meu Deus, ou ela me esqueceu ou eu estou muito bem”. E graças a Deus, eu tava muito bem. Eu estava largando em segundo empatada com a primeira, largamos iguais no zero. A minha vitória era não sair do pódio. Era o meu objetivo ali.

 

Eu realizei um sonho que era meu, um sonho que era dos meus técnicos, um sonho que era da minha família, da minha mãe, dos meus amigos, né? Depois que passa, você sente como você estava carregando tanta gente com você. E essa energia dessas pessoas, me conduziu até o pódio.